terça-feira, 5 de agosto de 2008

No Limite

Felício já tinha percorrido dois ou três quarteirões, correndo, e já não tinha fôlego para continuar. Depois de ter olhado furtivamente duas ou três vezes para trás, decidiu parar. Estancou bruscamente, levando as duas mãos aos joelhos. Sequer percebeu que atrás de si havia um muro onde pudesse apoiar-se. E enquanto ofegava ruidosamente, grossas gotas de suor a correr-lhe da raiz dos cabelos, escrutinava o cenário em derredor antes de continuar. Não poderia ficar ali, dando mole. Apertava os olhos toda vez que uma gota de suor lhes penetrava. Do outro lado da rua calçada de paralelepípedos havia uma praça arborizada onde muitas crianças, acompanhadas das mães, brincavam. Percorreu os olhos por todo esse ambiente e acabou vendo o que mais temia: uma guarita policial, na mais absoluta tranquilidade. Através da porta entreaberta aparecia metade de uma mesa, sobre a qual descansavam duas pernas metidas em coturnos. Pendeu a cabeça sobre o peito empastado de suor e ponderou antes de prosseguir. A esquina que a meio metro de sua direita o esconderia da praça era definitivamente o único itinerário a ser percorrido.